terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Um desabafo depois de tanto ouvir barbaridades

Como primeiro post a marcar o nascimento deste blog tenho de falar acerca do referendo da despenalização da interrupção voluntária da gravidez ou, menos politicamente correcto, do aborto. Em primeiro lugar, até porque parece ser complicada de encontrar, aqui fica a pergunta que vai ser referendada no dia 11 de Fevereiro: «Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?» Antes de qualquer dúvida, eu vou votar Sim. Mas digo não a tanta desinformação por parte dos movimentos em defesa de uma resposta e de outra. Travam-se de argumentos, mas elucidam pouco e julgo terem outro tipo de responsabilidade, mais no sentido de educar do que simplesmente ganhar. Falam de estudos e contra-estudos, mas a razão fica, normalmente, fora dos mesmos.
A campanha pelo Não diz que os abortos vão aumentar se forem despenalizados. Mas pergunto eu, há um número exacto de abortos realizados por ano em Portugal? É o INE (Instituto Nacional de Estatística) que tem esses números? E como fez esses estudos? Foi falar com as "desmanchadeiras" ou com as clínicas especilizadas do outro lado da fronteira? Claro que os abortos vão aumentar em números oficiais, pois só vão passar a ser controlados legalmente daqui a uns dias. E mais. Falou um reconhecido membro do Clero de 23 mil bebés que iam deixar de nascer se o aborto fosse despenalizado. E se continuarmos a esconder a porcaria debaixo do tapete -- como algumas instituições parecem ser peritas -- esses bebés vão nascer?
Depois surgem uma série de movimentos para ajudar mães a terem condições para poderem ter filhos a clamar pela penalização. Na minha opinião, humilde, estes movimentos deviam de continuar o seu bom trabalho de ajuda para que houvesse cada vez menos mulheres a fazerem abortos, mas deviam de saber que é melhor que os façam com condições do que em qualquer xafarica de vão de escada.
Existem ainda os reticentes e egoístas, aqueles que choram tão veementemente o dinheiro dos seus impostos - que muitos não pagam! - e que são a corja mais reles deste debate. Não se importam se os dinheiros públicos servem, por exemplo, para pagar baixas fraudulentas, ou para pagar salários a funcionários que faltam mas que picam o ponto; não se importam com nada disto e com outras situações bem piores, como as derrapagens milionárias nas obras públicas, mas acorrem como virgens ofendidas se se gastar dinheiro do erário público para acabar com uma situação das mais humilhantes e que nos coloca ainda ao nível da América do Sul.